quarta-feira, junho 07, 2006

07 Junho 2006 - Dia 23
































Foto: Patrícia Bruno

O dia é inteiramente dedicado à análise de terras e à sua caracterização. No domingo, ao regressar da praia da Macaneta, recolhi um pouco de terra negra, muito argilo-siltosa, para termos um termo de comparação com a terra vermelha da nossa obra. Infelizmente, as terras diferentes que tínhamos pedido para nos trazerem do norte nunca vieram, e não seria muito exemplificativo fazer testes a uma só qualidade de terra, sobretudo para quem ouve pela primeira vez os termos “granulometria”, “silte”, “plasticidade”, etc.
A primeira etapa do dia é distinguir entre terra e areia, uma vez que todos os alunos estão habituados a chamar areia à terra vermelha que utilizaremos na obra – um pouco à semelhança dos operários da construção de estradas em Portugal, que chamam saibro ou areão à terra com que fazem a camada compactada por baixo do asfalto, e que tão boa costuma ser para taipa.
Depois, é mais uma vez que me delicio a presenciar todo o percurso de alguém que realiza a sua primeira observação atenta da terra, com todas as surpresas, confusões, desmistificações e descobertas ao longo do processo – claro que me recorda os meus primeiros passos no estudo científico da terra, no CRATerre, há alguns anos atrás, mas também as oficinas promovidas pelo Centro da Terra, em que tenho tido o privilégio de apresentar o módulo de análise e caracterização de terras.
Aqui, porém, a tarefa é ligeiramente diferente, porque a base de dados de cada um destes alunos é muito menor e mais friável.
Ainda assim, não deixa de ser interessante ver a curiosidade com que alguns realizam todas as experiências que proponho, incluindo “comer” terra (colocar um pequeno pedaço de terra entre os dentes e morder, para avaliar a sua granulometria, presença de areias, etc.).
Resumindo, e ao longo de todo o dia, fizemos apenas os testes de terreno (já que só uma enorme improbabilidade lhes permitirá ou exigirá virem um dia a fazer testes de laboratório) e desses, os de análise de características – exames visual, “auditivo”, de cheiro, de tacto, da mordedura, da garrafa e da lavagem de mãos – e os de análise de comportamento – teste da pastilha e teste do charuto.
Ao longo do dia e com a crescente “sofisticação” dos exercícios, o interesse deles e o empenho também vai crescendo, e o teste final, o do charuto, é um sucesso absoluto, depois de já o da pastilha ter demorado imenso tempo, porque todos competiam pela realização da pastilha mais perfeita.
No final do dia retiramos as conclusões parciais. Ainda há os que estão um pouco baralhados, mas também há aqueles que até já fazem piadas com a matéria dizendo, por exemplo, que o almoço era feijão com xima e que a xima tinha poucos inertes e o feijão muitos ligantes, donde resultou uma dilatação da mistura e que prevê-se, mais tarde, a correspondente retracção…!

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