sábado, junho 24, 2006

24 Junho 2006 - Fim-de-semana






























Amanhã é feriado e, apesar de o estado económico do país não o deixar supor, os feriados que calham a fins-de-semana transitam para o dia útil seguinte, o que quer dizer que na segunda-feira será feriado.
Como o trabalho é muito e não sei mais para onde me virar com tanta coisa para fazer sozinho, decido ficar em Mumemo no fim-de-semana prolongado e aproveitar esse tempo e essa calma para dar um avanço em várias frentes.
Até deu para lavar as calças da obra, e acho que descobri como produzir a água mais suja do mundo de sempre…

sexta-feira, junho 23, 2006

23 Junho 2006 - Dia 35



































































































Quem me envia notícias da pátria lusa diz-me que estou com ar de verdadeiro africanista (será da barba…?)
Se calhar é por isso que já não me aflige tanto ter alunos a baterem taipa descalços, tal como as histórias de um que vigarizou não sei quem e fugiu para a África do Sul, foi lá detido por imigração ilegal e deportado e já está de novo nas aulas, ou outro que fugiu para Nampula por desavenças com vizinhos (daquelas que se resolve à catanada) e nunca mais voltou, ou os que vão faltando por terem malária, ou as crenças da maioria em feitiçarias, ou outros factos mais insólitos para o eu de Abril (pré-Mumemo) e que cada vez mais se tornam banais para o eu de agora - Junho Africano…
Entretanto os trabalhos também avançam com esse ambiente misto de objectivo definido e improviso constante, com muita feitiçaria pelo caminho!
Hoje terminámos a primeira fiada de taipa, graças a um pequeno grupo de três alunos que, juntamente comigo, estiveram a bater taipa até à noite cerrada.
No total demorámos 6 dias de trabalho a fazer esta primeira fiada, com 27,5m de extensão, 40cm de espessura e 55cm de altura. Continuo a puxar pelos alunos, dizendo-lhes que podem fazer melhor, mas, aqui entre nós, o facto é que já vi pior…!
O grupo do BTC continua a tentar, dia após dia, superar a produção da véspera, e hoje chegou-se aos 178 blocos.

quinta-feira, junho 22, 2006

22 Junho 2006 - Dia 34

























































































Tudo vai bem no reino da taipa, e a obra avança, com fulgor e alegria geral.
As equipas tornam a trocar, como acontecerá diariamente até ao final da produção de blocos, e o pessoal do BTC de hoje chega aos 148.

quarta-feira, junho 21, 2006

21 Junho 2006 - Dia 33









Primeiro dia de Verão em M'boene (como por cá se chama a Portugal) e, por cá, Inverno diferente dos lusos.
Trocam os grupos, e a explicação demorada e cuidada da produção de BTC repete-se, após o que este grupo consegue produzir 131 BTC e crivar terra e deixar uma mistura seca para o dia seguinte. Fiquei muito bem impressionado com a forma como este grupo conseguiu organizar-se, estudar os pontos onde era preciso estar alguém, quantas pessoas em cada posto, com que ritmo, e com que sequência. Pouco acrescento às decisões que tomaram durante a minha ausência do local, enquanto estava a acompanhar a taipa.
O grupo da taipa também se esforça em produzir, se bem que ainda se nota mais preocupação em fazer depressa (e mais do que o grupo anterior…) do que em fazer bem e com cuidados.
E hoje houve mais um jogo da selecção portuguesa, desta vez contra o México, e há dois canais de televisão em Moçambique que transmitem os jogos do mundial, e ambos optaram por transmitir o Angola – Irão, coisa que não só me parece estranha, como pouco inteligente, do ponto de vista da captação de audiências… Seja como for, lá se continuou a aula de hoje até ao final e pedimos um rádio emprestado, para ouvirmos o relato da RDP África enquanto batíamos taipa. E ganhámos de novo. Estamos nos oitavos de final. É desta que o Sebastião volta!A taipa durou até para lá do pôr-do-sol, após o que os resistentes se juntaram à porta da casa cá do bairro que vende umas Laurentinas à conversa. Estes momentos são especiais e, para aqueles que começarão já a ficar com a impressão de que a Laurentina está muito presente neste curso, devo dizer que é precisamente nestes momentos que tudo é mais enriquecedor, e que consigo desvendar as aspirações dos alunos, as verdadeiras opiniões sobre o que andamos a fazer e sobre o ritmo e sequência dos trabalhos. Nesta atmosfera mais descontraída de Laurentina na mão e sentados no chão à conversa, é gratificante a sinceridade com que falam deles e do que esperam de tuo isto, assim como é um bom momento para, nessa descontracção, colocarem todo o tipo de questões que não surgem no período de aulas, quer por intimidação, quer por falta de pertinência, quer por nem haver tempo para tal. E, no final de contas, já que ando com vida de pedreiro (até no bronzeado, para mal dos meus pecados…) que o seja até às partes agradáveis. Se aqui não há minis (as tais mines lá do Alentejo onde assentei arraiais nestes últimos tempos) beba-se uma Laurentina de 550ml. Automi adzivi adziamaxwéne!

terça-feira, junho 20, 2006

20 Junho 2006 - Dia 32

É preciso não esquecermos que é Inverno, por estas paragens!
Apesar de esta estação ser seca e as chuvas caírem no verão, hoje o céu chorou, como no tema do Elmore James, e a taipa ficou em ritmo lento.
Entretanto, tal como previsto, dividi os alunos em dois grupos, um que trabalhará na taipa e outro no BTC, e eu a correr entre os dois locais a tentar dar apoio às duas frentes.
A ideia é de dividir por ambos os grupos os alunos menos interessados ou trabalhadores, e também os mais valorosos e aplicados, de forma a ter dois grupos de igual potencial, com elementos que ganharam (e de que maneira!) a minha confiança, a liderar cada um deles.
Mas, por causa da tal chuva, a parte da taipa decorre com algumas dificuldades...
Na frente BTC, fazemos uma série de blocos de ensaio de procedimento, calmamente, para optimizarmos a organização e o desempenho da linha de produção.
O dia foi de estudo paulatino, para que os vários dias de produção que se avizinham sejam mais rentáveis, e para que os alunos fiquem bem conhecedores dos métodos de produção e dos próprios BTC, e também para que eles possam vir a ser mais autónomos nesta linha, para eu poder estar mais presente na taipa, que é bem mais complicada e com muito mais imprevistos e variáveis.
Eu não sei bem se já expliquei aqui, mas a obra, onde estamos a fazer taipa, é junto à casa onde estou alojado – aliás, é literalmente a três metros da janela do meu quarto – e a produção de BTC decorre num armazém na zona da escola profissional, a uns 300m de distância, sem visibilidade entre estes dois pontos, o que faz com que eu tenha de andar sempre para um lado e para o outro a ver se está tudo a correr bem e a esclarecer dúvidas e a corrigir erros – alguns tarde demais, mas isso também faz parte.
Depois da abordagem meticulosa à produção de BTC, estiveram a crivar alguma terra para a estenderem no interior do armazém, a secar, porque estava demasiado molhada pela chuva para se trabalhar com ela. Depois disso, até ao final da jornada, o grupo ainda consegue produzir 21 blocos em cerca de 40 minutos. Não é nada mau para quem começa e, sobretudo, com uma prensa que não permite grande rapidez de produção. Penso que, com prática, poderão produzir uns 300 BTC por dia, se incluirmos neste dia de 8h de trabalho a crivagem de terra, a mistura a seco e a húmido, a prensagem, o armazenamento e a crivagem e mistura a seco para no dia seguinte se começar logo com a prensagem no início do dia. Vamos ver…
O grupo da taipa esforçou-se bem debaixo da chuva persistente (não mais do que eles) e conseguiu concluir o primeiro troço da primeira fiada, entre os dois vãos dos alçados opostos, perfazendo toda a empena e os dois cunhais.

segunda-feira, junho 19, 2006

19 Junho 2006 - Dia 31


















Mantemo-nos apenas na taipa, já que a aprendizagem do processo de BTC será imensamente mais simples.
Pelo caminho, invento cantinhos de tempo para poder desenvolver um bocado o projecto e planear tudo o que está para vir, que o tempo corre.
A taipa começou de forma pouco ortodoxa, no sentido e sequência dos taipais, porque o frontal oblíquo não estava em condições, mas hoje finalmente consegui arranjá-lo, e retomamos o fio à meada.Como um mal nunca vem só, o taipal começa a abrir uma racha… Levamo-lo até à carpintaria para arranjar, e o ritmo de produtividade é de novo baixo.