sexta-feira, maio 12, 2006

12 Maio 2006 - Dia 04













































































A obra atrai-os bem mais do que a sala de aulas, o que não nos espanta minimamente (apesar de não estarmos à espera de que o nível de concentração e aprendizagem nas aulas teóricas fosse tão baixo assim). Mas, por sabermos que eles não iriam conseguir estar muito tempo encerrados numa sala, a encherem as medidas de conhecimentos teóricos novos, tivemos o cuidado de esboçar um programa que intercalasse componentes teóricas com práticas, permitindo uma “descompressão” de cada uma das partes, para evitar sobrecargas e consequentes desmotivações.
Assim, cada vez que introduzimos uma matéria mais pesada ou uma aula teórica mais prolongada, aliviamos a sequência com uma componente prática mais demorada. Por isso, depois da epopeia das triangulações e da marcação de níveis, resolvemos terminar a semana de forma mais ligeira, dedicando a parte da manhã à limpeza do terreno e à abertura de valas para fundações, seguida da colocação de uma camada de enrocamento para receber a viga de fundação, e dando a tarde livre – “borla”, como chamam por estas bandas ao que chamamos de “furo”.
Como o terreno é muito arenoso, é muito fácil de cavar e de formar as valas na perfeição, o que nos poupa tempo material e dinheiro, porque evita ter de fazer cofragens para a viga.
Apesar dos meus apelos, muitos dos alunos apareceram descalços na obra, havendo, inclusivamente, aqueles que vieram de chinelos ou sapatos, mas que os tiraram para trabalhar, para não os estragarem. Isto torna-se mais impressionante quando assisto à forma como esses cavam: Espetam a pá no terreno e calcam-na com o pé descalço, para a enterrarem bem! Pior ainda, só quando colocam o enrocamento de assentamento da viga de fundação e andam por cima da pedra partida descalços…
Quando a Patrícia chegar, na próxima semana, directamente da “velha Europa”, com as suas apresentações PowerPoint sobre Higiene e Segurança no Trabalho, receio que vá ter de executar um rápido e vigoroso golpe de rins…! É que ainda não registei aqui esse facto, mas o curso foi preparado para ser apresentado com forte componente gráfica, intensamente apoiado em apresentações PowerPoint, mas, no dia em que chegámos, não tínhamos projector data show, nem computador na sala (como previsto e anunciado), nem sequer giz e apagador para o quadro e, inclusivamente, nem sequer o próprio quadro, e nem mesmo a própria sala! (já para não dizer, como disse há alguns dias, nem sequer alunos!!!)
Mas, como sempre me convenço nas situações adversas, para não desanimar, ad augusta per angustia.
E, tal como os alunos na obra, também eu me sinto descalço, por aqui. Aliás, o livro com o qual nos temos identificado, nestes dias, é “O Arquitecto Descalço”, que é uma interessante obra que nos foi gentilmente emprestada pelo arqº Bartolomeu Costa Cabral e que propõe uma série (extensa) de soluções de recurso e semi-improviso para situações com poucos meios e recursos disponíveis, onde a construção também passa pela reinvenção de sistemas, pela adaptação de materiais e soluções, pela assemblagem e reutilização – em suma, pela feitiçaria e alquimia.

1 comentário:

Anónimo disse...

A construção devia ter sempre esse aspecto de aproveitamento, usando os recursos mínimos. Portugal anda muito estragadinho por causa dela.