sexta-feira, junho 02, 2006

02 Junho 2006 - Dia 20

Dia de teste oral!
O nível de conhecimentos adquiridos que a esmagadora maioria dos alunos demonstra é desanimador, porque as questões colocadas são de uma simplicidade ridícula…
Ainda assim, alguns não sabem o básico dos básicos do que foi ensinado, o que me faz, pela primeira vez desde que cheguei, ponderar sobre a real consequência deste curso.
Eu faço perguntas gerais, puxando mais pelos alunos que me parecem mais promissores e limitando-me ao básico com os outros, e a Patrícia, no final de cada sessão de perguntas, faz duas perguntas sobre HST (Higiene e Segurança no Trabalho).
Para não criarmos ambientes constrangedores ou intimidativos, resolvemos dividir os alunos em grupos de 3, por ordem alfabética, e questionar apenas um grupo de cada vez.
Logo por azar, a Laura Gonçalves Pereira – responsável da ONG promotora do curso, a APOIAR – aparece para ver o “exame” no último grupo, que é de longe o mais fraco (e aqui a palavra fraco ganha uma outra força…)
No final, temos uma conversa, entre a turma toda, e tento chamá-los à responsabilidade, prevenindo-os para o baixíssimo nível geral e para a responsabilidade que é, para nós, passarmos um certificado que ateste que um aluno sabe construir. Nesse sentido, friso bem que quem não souber um mínimo sobre tudo o que aqui aprendemos não poderá receber um certificado.
O ambiente fica pesado, mas duas coisas inesperadas estão para acontecer:
Durante o almoço, a irmã Susana (a freira hierarquicamente responsável pelo bairro) anuncia que decidiram construir casas para as crianças vítimas de HIV – que são imensas, quer as portadoras quer as órfãs de vítimas de sida – e que quem construirá essas casas será uma equipa formada pelos melhores aluno do nosso curso, com o devido pagamento pelos trabalhos. Fico radiante com a notícia, e pergunto se posso anunciá-la aos alunos nessa mesma tarde. Perante a anuência da irmã Susana, transmito a óptima notícia logo no início da aula da tarde, mas a reacção é contida. Penso que os alunos conversaram entre eles ao almoço e que estão um pouco alarmados com a percepção de que podem não ter certificado se não se esforçarem e, ao mesmo tempo, sentem-se algo culpabilizados pela minha “decepção” com o nível de conhecimentos que apresentaram.
A segunda coisa algo inesperada que aconteceu foi a qualidade, o brio e a tranquilidade dos trabalhos da tarde. Os elementos mais destabilizadores estavam concentrados e sem importunarem o decurso das aulas, e todos se esforçaram e se concentraram em fazer o melhor possível. Teria sido pela conversa da manhã, ou pelo anúncio da possibilidade de trabalho apenas para os melhores alunos…? Em todo o caso, foi um dos melhores períodos de trabalho até ao momento!
Continuamos com a execução da barreira anti-térmitas, com cofragem.
Como a cofragem não pode ser logo retirada, como ainda falta um troço para terminar e como queremos aproveitar o fim-de-semana para deixar tudo a secar, digo aos alunos que estarei na obra na manhã de sábado, à hora do costume (7h30), para terminar os trabalhos de betão e que, quem quiser, pode vir ajudar-me, mas que ninguém é obrigado, por se tratar de “horas extraordinárias”, extracurriculares.

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