quinta-feira, maio 25, 2006

25 Maio 2006 - Dia 13


































As responsáveis da APOIAR, Laura Gonçalves Pereira e Teresa Schmidt, passaram pela savana africana hoje de manhã, e ficaram muito contentes com o aspecto dos ensaios de taipa e adobes e, depois de umas palavras de encorajamento aos alunos do curso, rumaram a norte, prometendo passar por cá de novo no próximo dia 2.
Entretanto, os alunos acabaram o muro de embasamento, com duas fiadas de blocos de cimento e dois panos.
Fez-se um controlo de qualidade, verificou-se os níveis, com auxílio da mangueira, e fizemos uma “visita guiada” à volta da obra, para apontar, uma um, todos os erros de execução e os porquês de terem sucedido e de não poderem suceder.
Confesso que me incomodam um pouco, esses momentos, de iconografia anacrónica, em que tenho uma dúzia de africanos a seguirem-me enquanto eu, de chapéu de palha, aponto os erros com um pau do tipo bengala e digo “Isto não foi bem feito e tens de fazer antes assim”…
Mas os complexos de europeu diluem-se na óptima relação que consegui estabelecer, em apenas 3 semanas, com a maioria dos alunos.
Dois deles, em particular, percebem os meus reais motivos de interesse “turístico”, e convidam-me para um fim-de-semana em território proibido – os bairros dos subúrbios de Maputo. Será neste fim-de-semana e, pelo que contam os que dizem que ouviram dizer, é território de perigo real…! Depois de ter sido alvejado em Belfast, em 2000, por curiosidade imprudente em território hostil, não será um boato destes que me impedirá de conhecer a vida real destas pessoas. Não perderei esta oportunidade por nada!
Mas, para já, é no embasamento que concentro atenções.
A componente pedagógica desta obra legitima as irregularidades de desnivelamento das fiadas, mas também exige, ainda mais do que em situações de obra corrente, a sua correcção.
Com o coração partido pelo suor destes miúdos sob o sol do meio dia africano, mas com a convicção de pedagogo responsável e consequente, mando remover boa parte dos blocos e tornar a assentá-los em condições, com respeito por alinhamentos, níveis e verticalidades.
É que a tecnologia que por aqui se encontra resume-se a pouco mais do que o meu portátil onde tomo estas notas, pelo que tudo é feito de forma manual.
Com frequência os alunos que seguirem pelo ramo da construção encontrarão situações de enorme carência de recursos na execução de obras, pelo que os pareceu mais adequado e proveitoso para eles apoiar os trabalhos em execução manual e simples.
Portanto, tudo é feito de forma manual – e tudo quer dizer tudo, incluindo as intermináveis horas a misturar argamassa e betão.
E hoje o sol queima…!

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