segunda-feira, julho 03, 2006

03 Julho 2006 - Dia 41




































































O grupo do BTC não se deixou intimidar pelos 215 blocos que o outro grupo prensou na sexta-feira, e consegue produzir 216. Desde que eles os produzam com qualidade e não deixem de crivar terra para o dia seguinte, eu até acho engraçada esta rivalidade das equipas, a ver quem produz mais.
Também se passa um pouco na taipa, se bem que aqui eles têm uma rivalidade mais relacionada com a qualidade. Todas as manhãs apreciam, de forma crítica, o trabalho da equipa da véspera, o que me permite tirar algumas conclusões sobre o grau de conhecimentos e a inteligência dos comentários de cada um dos alunos, com algumas surpresas agradáveis.
De novo, tenho de encontrar um pedacinho de tempo para sair da obra e ir eu próprio com o condutor do camião buscar mais uma carrada de pó-de-pedra, porque a obra arrisca-se a parar se não houver um reabastecimento rápido.
Enquanto isso, fui à carpintaria falar pessoalmente com o Bernardo para nos alterar as travessas do taipal, uma vez que nada fora feito na sexta-feira, quando saí para ir a Maputo.
O taipal ficou logo pronto e a taipa recomeçou. De novo até ao anoitecer, com um grupo (sempre mais ou menos o mesmo) de alunos mais voluntariosos.
Eu nunca encarnei a personagem do professor distante, que manda fazer até o que não sabe, e procurei dar sempre o exemplo real do que ensino. Lembro-me que, nos meus tempos de escola, os professores que me inspiravam mais confiança e respeito eram aqueles que, quando diziam, por exemplo, que a argamassa de reboco deve ser projectada contra a parede, diziam-no de colher na mão e a fazê-lo como deve ser. Por isso, mas também por estar muito empenhado em que o curso produza resultados e a obra fique concluída e bem executada, participo na esmagadora maioria dos trabalhos, de pá ou colher em punho, na medida em que as funções de direcção de obra e de controlo de qualidade me permitem, e quando não tenho de andar a tratar de tudo o resto. Mas é a partir do pôr-do-sol que eles deixam de me tratar por arquitecto ou “stôr” e passam a chamar-me Miguel e eu torno-me em mais um deles, tanto mais quanto mais o curso avança e alguns ficam mais seguros do que fazem – sobretudo, e não por coincidência, julgo eu, os que ficam todos os dias, voluntariamente, até mais tarde. É uma parte do dia que me extenua, mas que me dá muito prazer.
O problema é que o dia acaba muito tarde e, depois do duche frio e do jantar tardio, ainda tenho de preparar o dia seguinte, pensar em todos os problemas construtivos, ver qual o material que está em falta, tentar combinar como ir buscá-lo, organizar os trabalhos a fazer, tentar acrescentar algumas linhas a estas impressões que por aqui vou deixando, etc, etc, até o cansaço obrigar a ir “estender o esqueleto”, porque amanhã a alvorada é às 6h30…
Em Agosto vingo-me!

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