sábado, julho 01, 2006

01 Julho 2006 - Fim-de-semana







Pausa para mais uma ida a Maputo. Aproveito o facto de tantos da família da Mariana terem aqui vivido durante uns bons anos, para vaguear com ela pela cidade, à procura dos locais que ela traz como referência. Belos tempos devem ter sido, porque, independentemente de todas as questões políticas e sociais associadas ao período do colonialismo, esta cidade deveria ser lindíssima nessa época, e um óptimo local para nele se viver!

sexta-feira, junho 30, 2006

30 Junho 2006 - Dia 40




















Hoje chega a Mariana, uma psicóloga recém-licenciada, de Évora, que vem um mês para Mumemo, para tentar desenvolver algum projecto, com as crianças, que lhe dê alguma experiência. Por isso, vou buscá-la ao aeroporto, mas antes deixo o taipal na carpintaria para lhe alterarem as travessas.
Como há aquela discrepância entre a medida do taipal e a modulação do projecto, resolvi mandar alterar a posição das travessas de encosto do frontal para ter blocos mais longos e, assim, evitar ter de fazer tantas rampas, que custam mais a fazer e demoram muito mais tempo, até porque obrigam a mais mudanças e montagens de taipais, que é uma das coisas mais demoradas de todo o processo construtivo.
Peço também uma nova carrada de pó-de-pedra para a mistura na terra da taipa, porque a nossa está a chegar ao fim.
Como está a chover, a interrupção da taipa pela alteração das travessas vem bem a propósito.
Parto para a cidade e, de facto, a chuva é muita e faz-me pensar nas origens factuais da minha vinda aqui – as cheias de 2000. A cidade transforma-se numa zona de cheia, com a agravante de que o sistema de recolha de lixos aqui é uma espécie de lixeira a céu aberto em cada rua. Daqui podem retirar as imagens do que será a proliferação de lixo flutuante em situação de chuva forte. E depois vem a mosquitagem (aquela da malária, pois bem), e os engarrafamentos, e estamos bem em África.
Após o tradicional atraso, a Mariana põe os pés no hemisfério sul e regressamos a Mumemo, onde só conseguimos chegar ao início da tarde.
Já sem grande espanto meu, nada do que pedi está feito, o que nos deixa entregues exclusivamente à produção de BTC, até porque a carpintaria já fechou. De facto, terei de dosear muito bem as minhas ausências - por cinco minutos que seja - se quiser que este curso chegue ao fim com resultados…
Mas sempre deu para prensar mais 215 BTC, que é o novo recorde de Mumemo. Claro que a equipa que os prensou não dispensa a foto da glória.

quinta-feira, junho 29, 2006

29 Junho 2006 - Dia 39






































































































Recorde do curso – 178 BTC.
No final do dia mudamos os 152 blocos prensados nos dois primeiros dia de produção, porque já passaram os sete dias de cura húmida, em que ficaram debaixo de um plástico, e passamo-los para outro sítio, onde os colocamos mais espaçados e ao ar, para secarem durante mais um mínimo de duas semanas, para a cura seca.
E a taipa continua. E também os problemas com o estojo…
Desta vez foi um costaneiro que se partiu, e outro que está a rachar.
Passo pela carpintaria, para pedir para me fazerem outros dois, e a resposta é a mesma de sempre, ao início – “O mestre César não está cá, foi para a serração, e eu só posso mexer nas madeiras com autorização dele”.
Após alguma insistência e a simplificação considerável do desenho das peças, lá convenço o encarregado, o Bernardo, a cortar-me duas peças com aquelas dimensões, que eu depois faço o resto.
E os costaneiros surgem.
Esta manhã tinha acordado com uma mensagem que me trazia boas notícias: O Francisco, músico (bem… baterista) de Maputo disse-me que o tal João Paulo, com quem eu estive a tocar na jam session (finalmente junto a foto dessa noite, tirada pela Francisca), tinha gostado tanto de me ouvir tocar que andava à procura de uma forma de entrar em contacto comigo, porque queriam que eu gravasse com eles. Nada mau. Como dizia o Francisco: “Isto é incrível! Nós andamos aqui a ver se isso dá, e este gajo chega cá, toca duas músicas numa jam session e o melhor músico de Moçambique anda atrás dele para gravar com ele!”
Bem… eu não lhe chamaria o melhor músico de Moçambique, até porque conheço poucos, apesar de eles (o quarteto do João Paulo) serem realmente muito bons, mas não deixa de ser uma honra, que me deixa contente para o resto do dia.

quarta-feira, junho 28, 2006

28 Junho 2006 - Dia 38









































































































































Os BTC já são familiares para quase todos os alunos, o que me permite estar um pouco mais descansado com a prensagem dos blocos e dedicar-me um pouco mais à taipa.
Nesta segunda fiada estamos a utilizar terra não estabilizada. Na primeira, como já havia aqui dito, usámos uma pequena percentagem de cimento para aferir uma melhor resistência ao desgaste, sobretudo por causa dos ventos fortes que transportam areias fustigantes rasteiras.
Por via das dúvidas, e como o trabalho dos alunos tem, naturalmente, algumas imperfeições, resolvo colocar uma espécie de grampos de amarração dos blocos de taipa nos cunhais, para conferir mais resistência, sobretudo de teor parasísmico, uma vez que estamos a trabalhar sem qualquer estrutura ou esqueleto, e a taipa é auto portante. São grampos feitos com varão de obra de 6mm, um pouco à semelhança de algumas técnicas antigas de reforço estrutural das paredes em terra, onde se colocava elementos em madeira nos cunhais. Como as térmitas andam a ver se comem a minha alegre casinha lá para os lados de Évora, tentaram comer a dos meus pais em Lisboa, estão a comer as de alguns amigos meus, e até me chamaram paranóico quando, numa série de crónicas semanais que costumava escrever sobre arquitectura para um jornal, dediquei uma edição inteira à temática das térmitas, e como essas matreiras terrificas abundam nestas zonas, achei por bem substituir a madeirita do cunhal por um varãozito de armadura. Modernices…

terça-feira, junho 27, 2006

27 Junho 2006 - Dia 37


























































































O temporal amainou, mas não desapareceu totalmente, e a taipa treme de medo que a chuva resolva vir em força… Não a que está feita, que essa está devidamente protegida, mas a que está por fazer, que está indefesa, ainda por compactar e por ser bonitas linhas verticais lamacentas.
Entretanto, o trabalho da carpintaria não pára de nos surpreender (não agradavelmente) e, desta vez, é o pilão (como chamam aqui ao maço) que se parte. Como o outro também não está de muita saúde, levo-o ao “doutor carpinteiro” para lhe administrar um prego, que me parece mais um paliativo do que uma cura eficaz, dada a qualidade da madeira com que este estojo foi feito…
Produziu-se 130 BTC, e a taipa foi até ao anoitecer (de novo).

segunda-feira, junho 26, 2006

26 Junho 2006 - Feriado

Não é que esteja farto de estar em Mumemo, mas temo que, se não sair por alguns momentos neste fim-de-semana, venha a saturar durante a próxima semana. E o trabalho é muito agradável, mas uma proposta da Sara para ir com ela e o pai Machado da Graça à praia da Macaneta parece-me irrecusável.
Por isso lá vou de novo em boa companhia para ver as ondas do Índico. O problema é que a sorte não anda a bafejar estas bandas, porque fica sempre um temporal nos dias em que decidimos ir à praia…
Mas já não é mau sentar na areia a sentir o vento, a ouvir as ondas e a ver aquela linha que faz adivinhar o que haverá para além dela.

domingo, junho 25, 2006

25 Junho 2006 - Fim-de-semana






















Trabalhinho, trabalhinho…
Mas que bom é poder estar sobrecarregado de coisas para fazer e gostar tanto de as fazer!
A oportunidade é absolutamente fantástica: Fazer um projecto, pensar em todos os detalhes, descobrir uma forma de o por em prática, participar na construção, envolvendo métodos experimentais e adaptativos, poder conceber e fazer, experimentando, de facto, todos os conceitos que se formam na nossa cabeça quando nos sentamos num estirador.
E, o melhor de tudo – tudo isso com terra!
A quantidade de trabalho é enorme e constante, mas é extremamente recompensadora.
Por isso é com prazer que fico de volta do portátil e da lapiseira, a esboçar detalhes, a planear a intervenção, a calendarizar os trabalhos, a contabilizar as despesas e as necessidades de material, a confrontar dados para tomar decisões, etc, etc.
E surgiu-me uma ideia bem interessante para a utilização de caniço na cobertura e em parte do alpendre do alçado, que pode contribuir para atenuar os efeitos nefastos da ventania forte que por aqui há, e para conferir algum interesse arquitectónico acrescido ao edifício. Porque me parece de extrema importância que o edifício tenha um valor arquitectónico garantido, para que não haja o menosprezo habitual dedicado aos edifícios em terra e à habitação social.
Mas tenho algumas dúvidas de que venhamos a ter tempo para fazer tudo aquilo que gostaríamos…