sexta-feira, julho 07, 2006

07 Julho 2006 - Dia 45
























































































































































































Hoje conhecemos o primeiro inquilino da nossa casa de taipa – uma aranha grande e peluda que se abrigava num dos furos das agulhas. Para evitar possíveis desavenças futuras, resolvemos proceder a uma operação de despejo…
Entretanto, a obra cresce e a vontade de a terminar até ao final do curso faz com que os alunos, por vezes, nem abandonem o local para almoçar, optando por trazer a refeição em marmitas para comerem numa breve pausa dos trabalhos. Claro que eu acompanho-os na escassez de tempo para a nutrição, o que não custa, porque o entusiasmo geral é grande. E a taipa bate-se até noite cerrada.

quarta-feira, julho 05, 2006

05 Julho 2006 - Dia 43




































































Manhã de neblina…
Ao longo do dia, terminamos a segunda fiada de taipa e iniciamos a terceira, com a experiência de um nicho num taipal, com a introdução de um negativo e um BTC como lintel.
Entretanto, a Mariana já ganhou uma popularidade no bairro, apenas comparável à da “emigrada” Francisca e, desde o primeiro dia em que cá chegou e começou a trabalhar, que foi antes de ontem, que tem um séquito de crianças entusiasmadíssimas com as aulas de inglês – que ela não esperava mas que elas pediram calorosamente para lhes dar – e com o grupo de teatro que entretanto formaram, já com ensaios e tudo.

terça-feira, julho 04, 2006

04 Julho 2006 - Dia 42
















































A taipa continua bem e o BTC em produção regular – 150 blocos hoje.
E continua a mudança dos blocos da cura húmida para a cura seca. No dia 14 de Julho já teremos os primeiros prontos para usar na obra, se nos regularmos pelo prazo mínimo admissível para a cura seca, que é de duas semanas – o ideal seria 3.
Depois de almoço, o aluno mais novo do grupo aparece lavado em lágrimas, a coxear pesadamente, e diz ter partido o pé num buraco que pisou. Lembro-me imediatamente do meu tornozelo que ficou naquela pista de snowboard, precisamente quando andava por França a estudar estas coisas da construção com terra, e sinto um breve arrepio na articulação…! Pego no aluno, ponho-o num carrinho de mão e levo-o nessa ambulância de ocasião até ao centro de saúde, perante o riso de todos os que se cruzam connosco e os gemidos do passageiro.
O meu palpite de que seria apenas um caso de entorse verifica-se, felizmente, e acompanho-o a casa para que fique a descansar e em repouso o resto do dia.
De volta à obra, toda a gente se congratula pela maior beleza da taipa com este novo pó-de-pedra, e até a maior facilidade do apiloamento, por comparação com a mistura anterior. O que por aqui chamam de pó-de-pedra é, na realidade, uma gravilha do tipo bago de arroz. Mas esta nova tem mesmo algum pó-de-pedra (tipo litopone) que vem misturado, provavelmente da própria trituração, o que lhe dá uma granulometria mais distribuída e uma compactabilidade melhor, permitindo maior densidade, para além de ser, subjectivamente, de resultado bastante mais bonito.

segunda-feira, julho 03, 2006

03 Julho 2006 - Dia 41




































































O grupo do BTC não se deixou intimidar pelos 215 blocos que o outro grupo prensou na sexta-feira, e consegue produzir 216. Desde que eles os produzam com qualidade e não deixem de crivar terra para o dia seguinte, eu até acho engraçada esta rivalidade das equipas, a ver quem produz mais.
Também se passa um pouco na taipa, se bem que aqui eles têm uma rivalidade mais relacionada com a qualidade. Todas as manhãs apreciam, de forma crítica, o trabalho da equipa da véspera, o que me permite tirar algumas conclusões sobre o grau de conhecimentos e a inteligência dos comentários de cada um dos alunos, com algumas surpresas agradáveis.
De novo, tenho de encontrar um pedacinho de tempo para sair da obra e ir eu próprio com o condutor do camião buscar mais uma carrada de pó-de-pedra, porque a obra arrisca-se a parar se não houver um reabastecimento rápido.
Enquanto isso, fui à carpintaria falar pessoalmente com o Bernardo para nos alterar as travessas do taipal, uma vez que nada fora feito na sexta-feira, quando saí para ir a Maputo.
O taipal ficou logo pronto e a taipa recomeçou. De novo até ao anoitecer, com um grupo (sempre mais ou menos o mesmo) de alunos mais voluntariosos.
Eu nunca encarnei a personagem do professor distante, que manda fazer até o que não sabe, e procurei dar sempre o exemplo real do que ensino. Lembro-me que, nos meus tempos de escola, os professores que me inspiravam mais confiança e respeito eram aqueles que, quando diziam, por exemplo, que a argamassa de reboco deve ser projectada contra a parede, diziam-no de colher na mão e a fazê-lo como deve ser. Por isso, mas também por estar muito empenhado em que o curso produza resultados e a obra fique concluída e bem executada, participo na esmagadora maioria dos trabalhos, de pá ou colher em punho, na medida em que as funções de direcção de obra e de controlo de qualidade me permitem, e quando não tenho de andar a tratar de tudo o resto. Mas é a partir do pôr-do-sol que eles deixam de me tratar por arquitecto ou “stôr” e passam a chamar-me Miguel e eu torno-me em mais um deles, tanto mais quanto mais o curso avança e alguns ficam mais seguros do que fazem – sobretudo, e não por coincidência, julgo eu, os que ficam todos os dias, voluntariamente, até mais tarde. É uma parte do dia que me extenua, mas que me dá muito prazer.
O problema é que o dia acaba muito tarde e, depois do duche frio e do jantar tardio, ainda tenho de preparar o dia seguinte, pensar em todos os problemas construtivos, ver qual o material que está em falta, tentar combinar como ir buscá-lo, organizar os trabalhos a fazer, tentar acrescentar algumas linhas a estas impressões que por aqui vou deixando, etc, etc, até o cansaço obrigar a ir “estender o esqueleto”, porque amanhã a alvorada é às 6h30…
Em Agosto vingo-me!

domingo, julho 02, 2006

02 Julho 2006 - Fim-de-semana



































O convite, de uns amigos da família da Mariana, para ir até Boane, já perto da Suazilândia, visitar a Casa do Gaiato, estende-se a mim. É aqui, num edifício de uma igreja fantástico, que eu, anos e anos depois da última vez, assisto a uma missa. Se soubessem o calor que estava e a ausência de sombras cá fora, também iam. Para além disso, com uns coros com vozes negras e secção de djembes e outras percussões, e com aquela vista sobre a savana, sem pingo de civilização em redor, qualquer um sentiria vontade de participar na missa, por mais agnóstica que fosse a sua espinha dorsal. Passagem pela barragem dos pequenos libombos e regresso a Mumemo, carregados de papaias.