rua pedro collaço 5 . 7000-925 évora . portugal
MUMEMO
diário de campo
sexta-feira, setembro 01, 2006
MUMEMO
rua pedro collaço 5 . 7000-925 évora . portugal
sexta-feira, agosto 04, 2006
04 Agosto 2006 – Dia 64
De novo, este seria o último dia, uma vez que é sexta-feira. Mas a obra continuará até onde pudermos – que será domingo, inevitavelmente, para sairmos daqui com tudo o mais adiantado possível.
Ontem terminámos os apoios do alpendre e chumbámos os prumos ao pilaretes. Hoje é dia de soldar toda a estrutura, para depois assentar os barrotes do alpendre. Entretanto, outra equipa trata de chumbar os aros e outra começa com uma série de testes para apurar o melhor reboco para o exterior.
A noite chega. Amanhã é sábado, domingo é a despedida, e a nostalgia, que tem vindo a crescer, torna-se do tamanho deste céu grande...
quinta-feira, agosto 03, 2006
03 Agosto 2006 – Dia 63
Os rebocos interiores conquistam todos pela sua beleza. Esta terra é, de facto, de uma coloração absolutamente fantástica. Tivéssemos nós disto em Portugal e ninguém quereria outros rebocos!
As térmitas são um assunto muito sério por cá, e todas as madeiras são escrupulosamente tratadas com anti-xilófago antes da sua colocação. A princípio tinha a intenção de o fazer com óleo queimado que tinha pedido ao professor de mecânica para me guardar, mas fui tendo a percepção de que a coloração negra e o cheiro intenso iriam desagradar muito toda a gente. Como este projecto também tem uma forte componente de charme e de sedução para esta técnica, prescindi um pouco dos princípios ecológicos e de reutilização, e lá fui à loja comprar uns litros de anti-xilófago.
Entretanto, as paredes das i.s. já estão a crescer, em BTC a ½ vez. É a primeira vez que os alunos executam uma parede inteira em alvenaria, e é bom que o início ocorra enquanto nós estamos por cá, sobretudo tratando-se de BTC.
A par disto, a Mariana e a Felícia trabalham com os muitos grupos que por cá montaram, na produção de uma festa dedicada ao tema da SIDA (um flagelo que, aqui atinge as proporções que se sabe...). O trabalho que elas têm desenvolvido é absolutamente impressionante. Em poucas semanas, desenvolveram um tal número de actividades e promoveram o surgimento de tal quantidade de grupos de trabalho, que nunca me pareceria possível. Sobretudo quando vejo, com algum descontentamento, o trabalho desenvolvido por outros voluntários, nestas situações, que mais se assemelha a sessões de férias com algumas actividades caridosas (no que a expressão tem de pobre) à mistura. Para mais, o trabalho delas promoveu a criação de grupos de trabalho que não se pretende apenas que sirvam para o contentamento das próprias mentoras enquanto cá estão, mas que cria condições para se perpetuar e ser levado a cabo pelos próprios membros dos grupos, tentando criar contextos culturais e sociais fundamentais, sobretudo neste enquadramento. Que grande orgulho sinto pelo trabalho delas! A Teresa revela-me que sente o mesmo, e exorta-me a forçá-las a divulgarem a experiência delas, por acreditar tratar-se de um documento importantíssimo para quem queira dedicar-se a tarefas semelhantes, revelando uma série de soluções que desenvolveram para ultrapassar problemas e para conseguirem chegar com enorme sucesso às pessoas e ganharem a confiança e estima delas.
Para esta actividade final, que acontecerá no domingo (último dia em que por cá estaremos) contam com a preciosa e empenhadíssima contribuição, voluntariosa e permanente, da Sara Machado da Graça e da Gianna – uma italiana, professora de guitarra clássica no conservatório dos Açores, que apareceu por cá de férias e que conhecemos em Maputo e se quis envolver nisto. Estão todos empenhadíssimos, muito motivados, e o resultado promete ser fantástico!
quarta-feira, agosto 02, 2006
02 Agosto 2006 – Dia 62
De novo em equipas, o trabalho ataca em várias frentes: continua-se com os pilaretes de apoio do alpendre, outra equipa com os rebocos interiores, outra com a marcação e furacão dos barrotes de cobertura para posterior fixação com elementos roscados.
O ambiente é muito bom, e o poder de improvisação dos alunos começa a dar resultados satisfatórios. Já é menos de registo anárquico e desastroso e passa a ser mais imaginativo e com uma perspectiva de consequência mais ponderada.
E a casinha ganha afirmação!
O meu contrato com a ONG terminou ontem. Eu tinha bilhete marcado para regresso a Portugal hoje. Mas, como o mudei para poder aproveitar da minha estadia aqui para outras aventuras mais lúdicas, vou sacrificar alguns dias dessas férias no apoio aos alunos. A postura em obra não sofre alteração absolutamente nenhuma. Mas agora, tal como a Mariana e a Felícia, também eu e a Teresa somos puros voluntários.
terça-feira, agosto 01, 2006
01 Agosto 2006 – Dia 61
A primeira coisa que hoje me vem à cabeça é que estamos em Agosto, o mês em que, ao contrário do que me apetece neste momento, tudo terminará...
Depois disso, é a obra. Continua-se com as fundações nas i.s., com a colocação da armadura da viga e a betonagem até à cota prevista, inicia-se os pilaretes do terraço anterior, com BTC mais estabilizados, usa-se todos os desperdícios de betão e argamassa para, à semelhança do que foi feito nos muretes de fundação do início da obra, se preencher os fracos blocos de betão para os reforçar, coloca-se os blocos de canto no embasamento dos muros das i.s., assim que a viga está minimamente seca, afina-se os níveis desses cunhais e deixa-se à espera para continuar amanhã.
Entretanto a Teresa regressou de Inhaca, de espírito cheio e com imagens que me fazem ansiar pela minha desejada viagem através deste enorme e belo país.
Os furos deixados pelas agulhas de taipal estão tapados, e começamos com os preparativos para o reboco – limpeza de poeiras, criação de rugosidade para aderência, e aplicação da primeira camada, ou salpisco.
Um grupo de alunos do curso de electricidade vem, a nosso pedido e com a concordância do professor, estudar a viabilidade e as exigências de executarem a instalação eléctrica da casa.
Isto seria óptimo. Para eles, porque é uma experiência real; para os nossos alunos, porque podem presenciar um outro tipo de intervenção num edifício, e aprenderem com isso; e para nós, porque garantimos a instalação no edifício, para que ele fique dotado das condições desejáveis.
Tudo isto é executado em ritmo intenso, com uma escrupulosa divisão de tarefas em equipas de trabalho simultâneo e complementar. Isto começa quase a parecer uma obra a sério, o que me faz ter boas expectativas sobre o grau de preparação destes alunos, sobretudo dos encarregados, que têm a difícil tarefa de fazer todas as peças encaixarem.
segunda-feira, julho 31, 2006
31 Julho 2006 – Dia 60
A Teresa compensa a minha estadia no kruger, e fica na ilha de Inhaca, depois do fim-de-semana. Bem merece, porque, com tudo o que por aqui há por fazer, já cá veio 3 vezes e pouco tempo livre teve para sair de Maputo. Eu sempre terei as minhas férias no final.
Na obra, chumbamos as peças metálicas de fixação dos barrotes, enquanto outra equipa inicia as fundações do corpo das instalações sanitárias.
Este corpo foi deixado para o final por várias razões. Em primeiro lugar, porque o projecto inicial não contemplava a existência de i.s., por isso elas ficariam sempre para segundo plano. Depois, porque o tempo era muito escasso, e nem tínhamos as coisas definidas para entrar em jogo com as canalizações e todos os trabalhos inerentes à construção de i.s. Para além disso, chegámos à conclusão de que seria muito bom para os alunos terem uma experiência de outro nível, que lhes fosse mais exigente e lhes desse, por consequência, mais confiança. Como tal, eu partiria de férias no dia 2 de Agosto, e eles ficariam a trabalhar sozinhos no corpo de i.s. Depois eu regressaria a Maputo no final do mês e viria ver como tudo estava. Seria uma forma de eles estarem entregues a eles próprios, mas com uma certa segurança, por saberem que eu ainda regressaria e os poderia ajudar, aconselhar, e dar dicas sobre como resolver eventuais problemas ocorridos entretanto. Uma óptima ocasião para eles.
Entretanto, mais uma vez, os meios postos ao nosso dispor pelas freiras são longe de serem ao nível desejado (e mesmo do possível, diga-se...!) e, para ir comprar algumas coisas para a obra, como tratamento anti-xilófago para as madeiras, tenho de ir com o condutor fazer uma volta de quilómetros, que me leva o tempo que não tenho, acompanhando-o a descobrir o melhor sítio para comprar ração para os pintos do aviário do bairro... A parte boa disto é que penetro em locais completamente surreais e onde ninguém se atreveria ou lembraria, sequer, de entrar.