sexta-feira, maio 26, 2006

26 Maio 2006 - Dia 14

















A rectificação do embasamento está aquém do louvável, mas aceita-se como minimamente satisfatória. No contexto em causa, olhando para as obras que decorrem no bairro e para os edifícios existentes, está muito acima da moda!
Aceite o trabalho dos dois panos de embasamento, procede-se ao enchimento do espaço entre eles, com areia do terreno limpa de raízes e matéria vegetal.
Já os próprios blocos de cimento tinham sido preenchidos com esta areia, com excepção dos blocos dos nós (cunhais e entroncamentos), que tinham sido preenchidos com a argamassa de assentamento dos desperdícios, recuperada ainda fresca.
Este preenchimento visa reforçar os pontos mais sensíveis, enquanto que o preenchimento com areia, para além disso, também confere mais massa e, consequentemente, maior inércia térmica, ao embasamento.
Para além disso, quando começámos a trabalhar com os blocos e vi a forma como eles se desfazem, fiquei com alguns receios da resistência do embasamento, quer ao próprio peso das paredes de taipa, quer ao ensopamento na estação das chuvas, quer, sobretudo, à vibração e ao impacto de bater taipas em cima delas…
Como amante do jazz, deito-me ao improviso de novo, e esboço uma adaptação do previsto, que discuto depois com a Patrícia e que envio por net à Teresa. Falamos pelo skype (viva o séc. XXI) e avançamos com novo golpe de rins.
A caixa entre os panos de blocos será preenchida com areia humedecida e compactada até perto do topo, ficando os 10cm superiores preenchidos com betão ciclópico ao traço 1:3:5, sendo os 5, na realidade, apenas 3 de gravilha e os outros 2 de desperdícios dos blocos de betão, para reutilização). As faces do embasamento serão rebocadas, para maior homogeneidade e resistência à humidade. Em volta do muro será executada uma caixa de gravilha, para drenagem rápida e eficaz das águas das chuvas, minimizando as hipóteses de longo ensopamento dos blocos – que, aqui, quando é para chover é a doer!
Sobre este muro de embasamento será executada uma camada de regularização para assentamento de uma tela de impermeabilização. Esta tela de impermeabilização é “improvisada” com plásticos – o resultado é exactamente o mesmo, porque utilizamos plástico grosso, e os custos e a disponibilidade são incomparáveis. Há que manter presente que o futuro mais provável para estes jovens será as obras de improviso, dadas as circunstâncias, e mais vale prepará-los para isso, que é mais fácil partirem daí para a sofisticação do que o percurso contrário.
Sobre a tela, será executada uma barreira anti-térmita, com 8cm de altura, que, como indica o nome, pretende impedir a presença terrível dessas formigas nas paredes que, não só permitiria o seu acesso até às madeiras, como poderia contribuir para a desagregação das próprias paredes de terra. E aqui (em África) as térmitas são mesmo um problema sério! Essa barreira anti-térmita terá a largura constante e exacta de 40cm e terá negativos para a passagem das agulhas (peças horizontais que sustentam as duas tábuas de taipal) para encaixe do taipal, e será “armada” com rede de galinheiro, para lhe dar maior resistência e permitir distribuir as forças dinâmicas durante a execução da taipa.
Improviso em sol maior…!

3 comentários:

Anónimo disse...

Para além de louvável pela divulgação do modo de ser de outra cultura, este blog é um verdadeiro curso de construção!
É o que se chama juntar o útil ao agradável.

Anónimo disse...

Fantástico!!!
è uma verdadeira "reportagem", para além, de como já alguém disse, um verdadeiro curso de construção de terra. Vou continuar a seguir a v/ "aventura" e divulgar o Blog. Beijos grandes para a Patricia.
Carlos F.

aqui jas disse...

não se passa nada ?